quarta-feira, maio 18, 2011

capitulo 1. A mudança. Final.

Estava tão cansada depois do banho que meus planos de deitar e ler O morro dos ventos uivantes – um livro que achei na estante – foi por água abaixo, pois ao primeiro contato com travesseiros e cobertores quentinhos cai em um sono profundo e sem sonhos. Acordei três horas depois, acompanhada por meus amigos mau hálito e olheiras. Ainda grogue, decidi comer alguma e após uns 10minutos descia a escada para ver se achava alguma besteira, não que eu quisesse ficar gorda, mas o momento pedia.
A primeira coisa que vi foi minha tia lendo, absorta em alguma matéria da cosmopolitan*, ela parecia tão confortável que decidi passar de fininho para não incomoda-la. Mas ao que pareceu ela queria ser incomodada.
- então- disse ela – o que achou da casa?
- é legal – ok, eu sei, eu também não acredito que disse isso. Mas eu nunca fui muito genial ao expressar ainda mais estando com borboletas no estomago. Eu tinha de me retratar - quero dizer, ela é linda.
- para mim, ela é mais que isso - um silencio incomodo tomou conta do ambiente, e tia Agnes fez questão de quebra-lo - então, o que vai ser? Pizza, pipoca, cachorro-quente...? hoje a escolha é por sua conta.
Pedimos pizza e, como tia Agnes rejeitou qualquer ajuda que eu pudesse oferecer, fui ligar para Luci que durante minha pestana havia ligado umas quinze vezes perguntando sobre mim. Ela é meio neurótica e super protetora, e acho que foi isso que fez dela uma ótima irmã. O fato de ela querer de dar uma de irmã mais velha no telefone, nunca foi novidade, mas independente disso pude perceber que ela estava feliz. Senti-me feliz, pois minha escolha já estava me dando recompensas.
Quando entrei na cozinha fui assaltada por aromas familiares e deliciosos. É claro que me refiro a chocolate e orégano, independente de não saber o sabor da pizza, tinha certeza que minha tia havia acertado. Lavamos a louça, assistimos televisão, conversamos e assim acabou a noite. A cada palavra dita, minha afeição por minha tia crescia e a cada minuto a esperança de algo bom em meu futuro aumentava. Pude perceber, observando-a, que sua alegra ia alem de sua expressão, parecia que ela tinha uma razão para viver, e me deu uma vontade louca de saber que razão era essa e de querer fazer parte dessa alegria.


Eu estava em uma floresta. Algo me dizia que devia fugir, correr, e era o que eu ia fazer, quando ouvi as vozes e decidi segui-las. As palavras ditas por elas eram irreconhecíveis, parecia um dialeto antigo. As palavras ditas por elas me atraiam e, pouco a pouco, comecei a entender o que elas diziam. Era como se eu já conhecesse as palavras e o que estava sendo feito, mas ficasse adormecido em algum lugar dentro de mim, e agora começasse a criar raízes.
Foi neste momento que os vi. Os donos das vozes, ou melhor, as donas porque as vozes eram femininas e os mantos possuíam curvas lindas, que as caracterizavam como mulheres. O que me chamou mais atenção foi a mulher de manto preto, que parecia fazer uma oferenda macabra de frutas, a alguma coisa mais macabra ainda. E também havia outra, que no momento acendia um incenso. De meu ponto de visão ela era a mais alta, tive a impressão de já conhece-la, mesmo sem ver sua face. Fique confusa, e então a mulher que fez a oferenda começou a cantar e jogou um papel no fogo. Neste momento me senti a sensação de pertencer aquele lugar, aquela festa, ritual ou o que quer que fosse. não apenas sensação, mas também a vontade de pertencer aquilo, de ser aceita por elas.
Se o que eu estava vendo era incomum, o que veio a seguir foi realmente assustador. O as labaredas começaram a avançar em direção aos mantos, e ao invés de fugirem elas se aproximaram das labaredas e uma imagem começou a ser formada pelo fogo. A cor do fogo de vermelho foi para o amarelo, e a mudança continuava, passando por verde, azul e no fim apenas uma densa fumaça era vista.
E então Michael Jackson começou a cantar.


Bem, gostaria de saber onde estava com a cabeça quando escolhi thriller como despertador. E também não entendo como meu celular confundiu oito e meia com três da manha. Ta, levando-se em conta que a dona do dito cujo sou eu, isso é normal. Após uns dez minutos me virando na cama, percebi que não ia conseguir pegar no sono novamente. Recorri a morro dos ventos uivantes, mas nem isso me ajudava, mesmo porque acho difícil alguém estar interessado no destino de Catherine e Heathcliff as quatro horas da manha.
Sabia que algo estava errado, mas não sabia o que. E o sonho que tive me atingiu como uma bofetada. Tinha a sensação de ter perdido algo importante, o papel que fora atirado ao fogo me veio à mente. O que havia nele? Porque logo após queima-lo me senti presente na estranha ‘festinha’? Algo me dizia que isso era importante. Se bem que, poderia sem apenas mais um sonho ridículo. Ultimamente, eu tive muitos desse tipo. Poderia ser apenas coincidência. Por mais que eu quisesse acreditar nisso, sentia que era o oposto. O fato de algumas figuras me parecerem familiares me intrigava. Minhas pestanas pesaram, e após isso não lembro mais o que aconteceu.












* Cosmopolitam: Revista feminina muito lida nos EUA.
* Borboletas no estomago: Estomago vazio.

quarta-feira, maio 11, 2011

capitulo 1. A Mudança.(continuação)

Enquanto íamos para casa refletia sobre o rumo que minha vida tomava. Sim, eu sei, não era a primeira vez que isso acontecia, mas não sabia dizer se a decisão que tomei era certa ou não. E pela primeira vez em minha vida senti como se algo morresse dentro de mim, como se eu resolvesse isso sem ter conhecimento. E como se não bastasse, algo me dizia que isso não seria bom. Era esperar para ver. Enquanto isso, levaria a vida e continuaria na mesmice que sempre me acompanhou, deixando meus dias continuarem no tédio, da mesma forma que sempre estiveram.
Pude notar, ao chegarmos, que não estava errada no julgamento que fiz sobre a personalidade de minha tia. Com dois andares e mais uma garagem imensa, a casa chamava atenção pela arquitetura que a primeira vista parecia renascentista, devido ao modelo das janelas do segundo andar , mas sugeria algo mais moderno, isso porque união entre vidro e madeira, acompanha do por intervalos na cor branca fez um contraste incrível, tornando-a perfeita para abrigar uma família, mas sem excluir um ar de mistério, sobrenatural. Algo assim. A casa era exuberante por si, mas os jardins que a circulavam não ficaram por menos, pois alem de bem cuidado, possui tulipas em tons que iam do lilás ao vinho escuro com pequenos intervalos que eram preenchidos pos violetas. Era impossível dizer observando do ponto em que me encontrava aonde terminava o caminho de pedras negras que vinha de uma porta de vidro localizada na extremidade da casa, e que levava a pequenos bancos de pedra e troncos, e também a um balanço preso a uma arvore. A primeira coisa que me veio a cabeça quando pus os olhos no jardim foi paz.
- Lindo, não? Perdi a conta de quantas vezes depois de adulta sua mãe usou este balanço para tomar grandes decisões, ou para sonhar acordada. - eu a vi se encher de alegria. Mas, com a mesma rapidez que a alegria a inundou uma sombra tomou conta de seu rosto, e ela disse algo que nunca me esquecerei- pena que todos seus sonhos foram roubados pela lua.-ok. Não entendi. E ela também não explicou. Então entramos na casa.
Diferente do que se via fora da casa, o interior possuía um ar moderno. A porta a qual entramos dava pra uma elegante e espaçosa sala de estar, que possuía três sofás, sendo a central preta e os outros dois brancos, disposta em forma de U. Eles estavam voltados pra uma televisão enorme que ficava acima de uma estante de madeira num tom ocre escuro e que também possuía alguns retratos de família, inclusive alguns meus. Atrás destes sofás estavam dispostas seis cadeiras de vime escuro com almofadas beges em um circulo, em cima de um tapete felpudo e atrás das cadeiras e de frente pra a televisão tinha uma estante de livros de diversos tamanhos, cores e estilos, alem de alguns DVD’s. Ao lado da estante havia uma escada também em madeira envernizada e em cada lado da televisão havia uma porta, ambas se encontravam fechadas. A parede aos fundos era de vidro com pequenos espaços cortados por madeira do mesmo tom da escada.
- bem - ela falou – as portas ao lado da televisão levam a sala de jantar e a cozinha, e no corredor que da na cozinha tem um lavabo e um banheiro. Nossos quartos são no segundo andar. Vem, eu mostro o caminho. – ela pegou minha bolsa e fomos para a escada.
O segundo andar iniciava com uma sala, e desta sala tinha acesso sete portas, cada uma tinha um objeto, algo como amuleto feito em alto relevo e na cor preta, o que se destacava, levando em consideração que as portas e também as paredes eram marfim. A primeira vista, os amuletos me deixaram curiosa quanto a o que significavam, mas depois notei o quanto eles combinavam com a sala. Nesta sala a cor predominante era o vinho, que era visto nas mantas que cobriam três dos seis sofás presentes, no tapete, nos detalhes da janela e nos quatro quadros, que pareciam ser caros (não que eu achasse formas abstratas interessantes, mas tem gosto pra tudo nesta vida). Os três sofás cobertos por mantas eram beges, os outros eram pretos, com mantas creme por cima, todos os sofás tinham almofadas em tons de cinza e marrom, e havia algumas almofadas no chão que dava a impressão de ser jogadas ao acaso, mas acho que esse efeito deveria ser proposital. Os sofás estavam dispostos em dois semicírculos, se alguém olhasse de cima veria o numero três no formato dos sofás, que eram voltados pra a rua. As paredes da sala eram de vidro em um lado, o lado para qual os sofás estavam voltados, e os outros três possuíam as portas que levavam aos quartos, que eram separadas por paredes com quadros, retratos e uma delas tinha uma televisão grande, um pouco menor que a da sala. Abaixo da televisão viam-se três cestos de vime, com jornais, revistas, mangas e livros.
Seguimos na direção oposta a escada e tia Agnes abriu uma porta que tinha um laço vermelho. Ta, acho que o laço era algo como “bem vinda ao lar”, mas titia, a primeira coisa que me veio a mente quando vi meu quarto foi que este lugar nunca seria meu lar. Ele era frio, impessoal, parecia que estava em um quarto de hotel, com moveis combinando, tapetes marrons e uma cama. Ta, eu sei, uma cama. Serio, tinha uma cama no quarto. Pronto, voltei. A cama era grande, e o quarto também, na cama havia uma colcha de crochê florida num tom bege bem claro que cobria um lençol marrom escuro por cima da cama havia almofadas pretas, brancas e uma rosa. No chão mais uma tapete felpudo, mas este era mais fofo e com pelos mais altos e mais fofos que o da sala. O tapete ficava sobre um piso de madeira.
Como era de se esperar, aqui havia mais uma parede de vidro, a parede dava para os fundos da casa, onde havia um jardim secreto, e era dividida em quatro partes, sendo duas de vidro e dois mognos colocados de forma intercalada. De frente a parede de vidro, a parede inteira era ocupada por uma estante, que continha mais livros ( foi nesse momento que comecei a cogitar a hipótese de minha tia ser uma dessas intelectuais neuróticas) e uma televisão grande, acho eu, de cristal liquido. No final dessa parede tinha uma porta com desenhos labirintais esculpidos, e ao lado da porta, três puffs pretos, dispostos em triangulo, ficavam em baixo de um mural também preto.
O mural preto tinha três folhas com algo escrito, mas eu estava muito longe para dizer o que era, e nele havia alguns imãs brancos em formatos de lua, estrelas e gatinhos. Ta, gostei dos gatos. Hehe. Alem do mural, neste canto – em frente a porta – ficava minha cama. A cama. Ta, parei. Ela tinha uma colcha de crochê vazado que atravez dele era possível ver o lençol branco. Ta, o lençol era daquele branco, mas branco mesmo, que chegava a brilhar. Por cima da cama tinha algumas almofadas laranjadas e marrons. Futuramente, fiz uma nota mental, tenho de mudar isso.
Acho que minha tia ficou esperando que eu dissesse alguma coisa sobre o quarto, mas não o fiz. Então ela se dirigiu a porta ao lado da estante e abriu, revelando outras duas portas de madeira. A primeira era o banheiro e a outra um closet. O banheiro era branco, com um box verde musgo meio que transparente em cima da pia tinha um armário com portas de espelho e em baixo e ao lado as portas eram de vidro pretas. A parte de trás da porta do banheiro era toda em espelho, o que era bom. Muito bom.
Quando minha tia abriu a porta do closet fiquei assustada, porque achava não ser possível alguém, foram modelos e estrelas, possuírem tantas roupas. As paredes do cômodo eram cobertas de araras e gavetas, e na frente das araras foram colocadas portas de vidro, e em duas portas o tradicional vidro foi substituído por espelhos. Percebi que já haviam algumas peças nos cabides e me perguntei o que significavam, duvida que foi logo saturada por minha tia.
- Me dei a liberdade de lhe dar algumas roupinhas como presentes de boas vindas. Bem, vou descer – disse ela já se preparando pra sair. Quando estava na porta do quarto a ouvi dizer – se precisar de mim estarei na cozinha. – e então eu fiquei sozinha.
Decidi tomar um banho e descansar, mesmo porque poderia guardar minhas coisas depois e independente disso, minhas aulas só começariam na próxima segunda, ou seja, ainda tinha doze dias para me preparar psicologicamente para o suplicio que seria meu primeiro dia de aula. Lembre-se, disse uma vozinha em minha mente, foi você quem escolheu. E com esse pensamento fui tomar banho.