quarta-feira, agosto 03, 2011

capitulo 2. Independente de nossa vontade, a vida passa.

Onde eu estou?
Esta foi a primeira coisa que pensei quando acordei (obs.: desta vez sem Michael Jackson). Então me lembrei de tudo, e por mais que até o momento tudo estivesse indo bem, senti saudades de meu lar, de Luci. Como ainda era sete e meia e minha cara estava mais inchada que tudo, achei que um banho seria ideal. E após meu costumeiro ritual matinal que consistia em banho, trocar de roupas, guardar pijama, limpeza de pele e arrumar, decidi explorar a estante. Alem de livros, notei que havia também CDs e DVDs, e quem os havia escolhido possuía bom gosto. Claro, pensei, foi minha tia quem comprou. Cada vez mais crescia o numero de afinidades que minha tia e eu tínhamos. Deve ser fácil conviver com minha tia, falei para mim mesma. Escolhi uma sinfonia de Bach, que me deu uma preguiça imensa, só não voltei para a cama porque havia acabado de arrumá-la. Acomodei-me em um dos puffes, e junto com uma manta que achei no closet, continuei a leitura de meu livro, e depois de uma meia hora decidi tomar café da manha.
Quando desci as escadas notei que minha tia não estava sozinha, porque o tom sugeria que, no mínimo mais duas pessoas estavam com ela na cozinha. Acho que a noticia de minha chegada se espalhou mais rápido do que podia supor. Se bem que um novo morador na cidade de Westmont sempre é novidade, mas não precisa ter comitê de recepção na minha primeira manha aqui. Se desci pra comer, pensei, então vamos aos cereais.
Senti-me em casa quando o cheiro de ovos com queijo me inundou. Senti saudades de Luci. Eu estava ficando muito melodramática. Chega de lembranças, disse a mim mesma. Na cozinha, fora minha tia, havia três mulheres. A primeira era loira, cabelos no ombro com mechas castanho claro. A segunda tinha cabelos castanhos olhos verdes e pele claríssima, o que lhe dava um ar romântico. Quanto à terceira, seus cabelos eram castanho escuro, olhos num tom mel, possuía lábios cheios e perfeitos, não se podia dizer o mesmo de seus cabelos cacheados, que precisavam desesperadamente de um corte e uma hidratação. Das três a mais bonita era a segunda, mais nem de longe se comparava a tia Agnes, que com seu cabelos castanho chocolate e seus olhos verde-água roubava toda a luz do ambiente. Quando entrei imediatamente trocaram de assunto, ou seja, eu era a nova fofoca da cidade. Fiquei decepcionada por minha tia colaborar com os mexericos, mas com ainda não havia conseguido defini-la, decidi dar-lhe mais uma chance para mostrar o que tinha de melhor.
- Oi, Kathy. Dormiu bem?- levando em consideração que ela ignorou as demais pessoas na cozinha, tudo normal.
- Sim. Estou atrapalhando? Qualquer coisa eu volto depois - e fiz menção de me retirar, sendo impedida no ato pelas três mulheres.
- que é isso querida, - disse a loira – esta é sua casa, agora. O que quer que tenha vindo fazer aqui não será interrompido pela fofoca de quatro fuxiqueiras. Pensei que não levantaria depois das dez. Descansou o suficiente? – respondi com um aceno.
-mas já que esta aqui, que tal um café?- tenho que dizer eu realmente estava com fome, mas a presença de três estranhas estava alterando minha confiança recém adquirida. Mas independente disso, decidi comer. A fome venceu a timidez.
- Calma meninas. – disse a de cabelos castanho escuro – ela nem ao menos nos conhece. Prazer querida, meu nome é Amara Reinnerts Climbs.
- Meu nome é Kaylla S. Bloom – falou a loira – É um prazer conhece-lá, não sabe como sua tia pensava em você. Desde de que a conheço ela busca formas de arrastá-la pra cá.
- E eu sou Vichtoria Campiestro- disse a de cabelos castanho, que a meu ver parecia a mais calma- Você possui o cabelo loiro lindo das mulheres da família cumhacht.
A menção de minha família materna me trouxe a mente imagens que estavam há muito tempo trancadas, para ser mais exata, decidi esquecê-las com a morte de minha mãe. Por mais relapsa que minha mãe pudesse parecer, eu senti a morte dela. Esse era um assunto para pensar mais tarde, de preferência sozinha e trancada e meu refugio feliz, ou seja, no meu quarto.
A refeição se baseava em torradas com manteiga, ovos, cappuccino e um bolo enorme coberto por uma glacê cor de rosa. Que minha tia sempre desejou me ver morando aqui, eu sabia, mas não pensava que era tanto. Com o decorrer da refeição comecei a notar detalhes comuns entre minha tia e as demais mulheres. A começar pela forma que moviam as mãos, a simetria dos traços, o fato de conversas banais não se tornarem tediosas, entre outros. Enquanto tagarelavam pude perceber que, como eu, elas ficavam a vontade na presença de minha tia. Era como se elas fizessem parte da mesma família, coisa que eu achava difícil levando em consideração o fato de minha tia nunca ter se casado. Uma coisa era certa, elas se viam como algo mais que amigas. Como se fossem irmãs. Ou algo mais.
Algo que elas disseram chamou minha atenção, pois minha mente começou a tomar notas de tudo o que era dito. Desejei que repetissem o que haviam falado, mas não seria indelicada a ponto de pedir, pois não gostaria de assumir não prestar atenção no que havia sido dito. Então me voltei para o que estavam dizendo agora. Algo como uma festa. E algo me disse que eu não gostaria do que iria ouvir.

quarta-feira, maio 18, 2011

capitulo 1. A mudança. Final.

Estava tão cansada depois do banho que meus planos de deitar e ler O morro dos ventos uivantes – um livro que achei na estante – foi por água abaixo, pois ao primeiro contato com travesseiros e cobertores quentinhos cai em um sono profundo e sem sonhos. Acordei três horas depois, acompanhada por meus amigos mau hálito e olheiras. Ainda grogue, decidi comer alguma e após uns 10minutos descia a escada para ver se achava alguma besteira, não que eu quisesse ficar gorda, mas o momento pedia.
A primeira coisa que vi foi minha tia lendo, absorta em alguma matéria da cosmopolitan*, ela parecia tão confortável que decidi passar de fininho para não incomoda-la. Mas ao que pareceu ela queria ser incomodada.
- então- disse ela – o que achou da casa?
- é legal – ok, eu sei, eu também não acredito que disse isso. Mas eu nunca fui muito genial ao expressar ainda mais estando com borboletas no estomago. Eu tinha de me retratar - quero dizer, ela é linda.
- para mim, ela é mais que isso - um silencio incomodo tomou conta do ambiente, e tia Agnes fez questão de quebra-lo - então, o que vai ser? Pizza, pipoca, cachorro-quente...? hoje a escolha é por sua conta.
Pedimos pizza e, como tia Agnes rejeitou qualquer ajuda que eu pudesse oferecer, fui ligar para Luci que durante minha pestana havia ligado umas quinze vezes perguntando sobre mim. Ela é meio neurótica e super protetora, e acho que foi isso que fez dela uma ótima irmã. O fato de ela querer de dar uma de irmã mais velha no telefone, nunca foi novidade, mas independente disso pude perceber que ela estava feliz. Senti-me feliz, pois minha escolha já estava me dando recompensas.
Quando entrei na cozinha fui assaltada por aromas familiares e deliciosos. É claro que me refiro a chocolate e orégano, independente de não saber o sabor da pizza, tinha certeza que minha tia havia acertado. Lavamos a louça, assistimos televisão, conversamos e assim acabou a noite. A cada palavra dita, minha afeição por minha tia crescia e a cada minuto a esperança de algo bom em meu futuro aumentava. Pude perceber, observando-a, que sua alegra ia alem de sua expressão, parecia que ela tinha uma razão para viver, e me deu uma vontade louca de saber que razão era essa e de querer fazer parte dessa alegria.


Eu estava em uma floresta. Algo me dizia que devia fugir, correr, e era o que eu ia fazer, quando ouvi as vozes e decidi segui-las. As palavras ditas por elas eram irreconhecíveis, parecia um dialeto antigo. As palavras ditas por elas me atraiam e, pouco a pouco, comecei a entender o que elas diziam. Era como se eu já conhecesse as palavras e o que estava sendo feito, mas ficasse adormecido em algum lugar dentro de mim, e agora começasse a criar raízes.
Foi neste momento que os vi. Os donos das vozes, ou melhor, as donas porque as vozes eram femininas e os mantos possuíam curvas lindas, que as caracterizavam como mulheres. O que me chamou mais atenção foi a mulher de manto preto, que parecia fazer uma oferenda macabra de frutas, a alguma coisa mais macabra ainda. E também havia outra, que no momento acendia um incenso. De meu ponto de visão ela era a mais alta, tive a impressão de já conhece-la, mesmo sem ver sua face. Fique confusa, e então a mulher que fez a oferenda começou a cantar e jogou um papel no fogo. Neste momento me senti a sensação de pertencer aquele lugar, aquela festa, ritual ou o que quer que fosse. não apenas sensação, mas também a vontade de pertencer aquilo, de ser aceita por elas.
Se o que eu estava vendo era incomum, o que veio a seguir foi realmente assustador. O as labaredas começaram a avançar em direção aos mantos, e ao invés de fugirem elas se aproximaram das labaredas e uma imagem começou a ser formada pelo fogo. A cor do fogo de vermelho foi para o amarelo, e a mudança continuava, passando por verde, azul e no fim apenas uma densa fumaça era vista.
E então Michael Jackson começou a cantar.


Bem, gostaria de saber onde estava com a cabeça quando escolhi thriller como despertador. E também não entendo como meu celular confundiu oito e meia com três da manha. Ta, levando-se em conta que a dona do dito cujo sou eu, isso é normal. Após uns dez minutos me virando na cama, percebi que não ia conseguir pegar no sono novamente. Recorri a morro dos ventos uivantes, mas nem isso me ajudava, mesmo porque acho difícil alguém estar interessado no destino de Catherine e Heathcliff as quatro horas da manha.
Sabia que algo estava errado, mas não sabia o que. E o sonho que tive me atingiu como uma bofetada. Tinha a sensação de ter perdido algo importante, o papel que fora atirado ao fogo me veio à mente. O que havia nele? Porque logo após queima-lo me senti presente na estranha ‘festinha’? Algo me dizia que isso era importante. Se bem que, poderia sem apenas mais um sonho ridículo. Ultimamente, eu tive muitos desse tipo. Poderia ser apenas coincidência. Por mais que eu quisesse acreditar nisso, sentia que era o oposto. O fato de algumas figuras me parecerem familiares me intrigava. Minhas pestanas pesaram, e após isso não lembro mais o que aconteceu.












* Cosmopolitam: Revista feminina muito lida nos EUA.
* Borboletas no estomago: Estomago vazio.

quarta-feira, maio 11, 2011

capitulo 1. A Mudança.(continuação)

Enquanto íamos para casa refletia sobre o rumo que minha vida tomava. Sim, eu sei, não era a primeira vez que isso acontecia, mas não sabia dizer se a decisão que tomei era certa ou não. E pela primeira vez em minha vida senti como se algo morresse dentro de mim, como se eu resolvesse isso sem ter conhecimento. E como se não bastasse, algo me dizia que isso não seria bom. Era esperar para ver. Enquanto isso, levaria a vida e continuaria na mesmice que sempre me acompanhou, deixando meus dias continuarem no tédio, da mesma forma que sempre estiveram.
Pude notar, ao chegarmos, que não estava errada no julgamento que fiz sobre a personalidade de minha tia. Com dois andares e mais uma garagem imensa, a casa chamava atenção pela arquitetura que a primeira vista parecia renascentista, devido ao modelo das janelas do segundo andar , mas sugeria algo mais moderno, isso porque união entre vidro e madeira, acompanha do por intervalos na cor branca fez um contraste incrível, tornando-a perfeita para abrigar uma família, mas sem excluir um ar de mistério, sobrenatural. Algo assim. A casa era exuberante por si, mas os jardins que a circulavam não ficaram por menos, pois alem de bem cuidado, possui tulipas em tons que iam do lilás ao vinho escuro com pequenos intervalos que eram preenchidos pos violetas. Era impossível dizer observando do ponto em que me encontrava aonde terminava o caminho de pedras negras que vinha de uma porta de vidro localizada na extremidade da casa, e que levava a pequenos bancos de pedra e troncos, e também a um balanço preso a uma arvore. A primeira coisa que me veio a cabeça quando pus os olhos no jardim foi paz.
- Lindo, não? Perdi a conta de quantas vezes depois de adulta sua mãe usou este balanço para tomar grandes decisões, ou para sonhar acordada. - eu a vi se encher de alegria. Mas, com a mesma rapidez que a alegria a inundou uma sombra tomou conta de seu rosto, e ela disse algo que nunca me esquecerei- pena que todos seus sonhos foram roubados pela lua.-ok. Não entendi. E ela também não explicou. Então entramos na casa.
Diferente do que se via fora da casa, o interior possuía um ar moderno. A porta a qual entramos dava pra uma elegante e espaçosa sala de estar, que possuía três sofás, sendo a central preta e os outros dois brancos, disposta em forma de U. Eles estavam voltados pra uma televisão enorme que ficava acima de uma estante de madeira num tom ocre escuro e que também possuía alguns retratos de família, inclusive alguns meus. Atrás destes sofás estavam dispostas seis cadeiras de vime escuro com almofadas beges em um circulo, em cima de um tapete felpudo e atrás das cadeiras e de frente pra a televisão tinha uma estante de livros de diversos tamanhos, cores e estilos, alem de alguns DVD’s. Ao lado da estante havia uma escada também em madeira envernizada e em cada lado da televisão havia uma porta, ambas se encontravam fechadas. A parede aos fundos era de vidro com pequenos espaços cortados por madeira do mesmo tom da escada.
- bem - ela falou – as portas ao lado da televisão levam a sala de jantar e a cozinha, e no corredor que da na cozinha tem um lavabo e um banheiro. Nossos quartos são no segundo andar. Vem, eu mostro o caminho. – ela pegou minha bolsa e fomos para a escada.
O segundo andar iniciava com uma sala, e desta sala tinha acesso sete portas, cada uma tinha um objeto, algo como amuleto feito em alto relevo e na cor preta, o que se destacava, levando em consideração que as portas e também as paredes eram marfim. A primeira vista, os amuletos me deixaram curiosa quanto a o que significavam, mas depois notei o quanto eles combinavam com a sala. Nesta sala a cor predominante era o vinho, que era visto nas mantas que cobriam três dos seis sofás presentes, no tapete, nos detalhes da janela e nos quatro quadros, que pareciam ser caros (não que eu achasse formas abstratas interessantes, mas tem gosto pra tudo nesta vida). Os três sofás cobertos por mantas eram beges, os outros eram pretos, com mantas creme por cima, todos os sofás tinham almofadas em tons de cinza e marrom, e havia algumas almofadas no chão que dava a impressão de ser jogadas ao acaso, mas acho que esse efeito deveria ser proposital. Os sofás estavam dispostos em dois semicírculos, se alguém olhasse de cima veria o numero três no formato dos sofás, que eram voltados pra a rua. As paredes da sala eram de vidro em um lado, o lado para qual os sofás estavam voltados, e os outros três possuíam as portas que levavam aos quartos, que eram separadas por paredes com quadros, retratos e uma delas tinha uma televisão grande, um pouco menor que a da sala. Abaixo da televisão viam-se três cestos de vime, com jornais, revistas, mangas e livros.
Seguimos na direção oposta a escada e tia Agnes abriu uma porta que tinha um laço vermelho. Ta, acho que o laço era algo como “bem vinda ao lar”, mas titia, a primeira coisa que me veio a mente quando vi meu quarto foi que este lugar nunca seria meu lar. Ele era frio, impessoal, parecia que estava em um quarto de hotel, com moveis combinando, tapetes marrons e uma cama. Ta, eu sei, uma cama. Serio, tinha uma cama no quarto. Pronto, voltei. A cama era grande, e o quarto também, na cama havia uma colcha de crochê florida num tom bege bem claro que cobria um lençol marrom escuro por cima da cama havia almofadas pretas, brancas e uma rosa. No chão mais uma tapete felpudo, mas este era mais fofo e com pelos mais altos e mais fofos que o da sala. O tapete ficava sobre um piso de madeira.
Como era de se esperar, aqui havia mais uma parede de vidro, a parede dava para os fundos da casa, onde havia um jardim secreto, e era dividida em quatro partes, sendo duas de vidro e dois mognos colocados de forma intercalada. De frente a parede de vidro, a parede inteira era ocupada por uma estante, que continha mais livros ( foi nesse momento que comecei a cogitar a hipótese de minha tia ser uma dessas intelectuais neuróticas) e uma televisão grande, acho eu, de cristal liquido. No final dessa parede tinha uma porta com desenhos labirintais esculpidos, e ao lado da porta, três puffs pretos, dispostos em triangulo, ficavam em baixo de um mural também preto.
O mural preto tinha três folhas com algo escrito, mas eu estava muito longe para dizer o que era, e nele havia alguns imãs brancos em formatos de lua, estrelas e gatinhos. Ta, gostei dos gatos. Hehe. Alem do mural, neste canto – em frente a porta – ficava minha cama. A cama. Ta, parei. Ela tinha uma colcha de crochê vazado que atravez dele era possível ver o lençol branco. Ta, o lençol era daquele branco, mas branco mesmo, que chegava a brilhar. Por cima da cama tinha algumas almofadas laranjadas e marrons. Futuramente, fiz uma nota mental, tenho de mudar isso.
Acho que minha tia ficou esperando que eu dissesse alguma coisa sobre o quarto, mas não o fiz. Então ela se dirigiu a porta ao lado da estante e abriu, revelando outras duas portas de madeira. A primeira era o banheiro e a outra um closet. O banheiro era branco, com um box verde musgo meio que transparente em cima da pia tinha um armário com portas de espelho e em baixo e ao lado as portas eram de vidro pretas. A parte de trás da porta do banheiro era toda em espelho, o que era bom. Muito bom.
Quando minha tia abriu a porta do closet fiquei assustada, porque achava não ser possível alguém, foram modelos e estrelas, possuírem tantas roupas. As paredes do cômodo eram cobertas de araras e gavetas, e na frente das araras foram colocadas portas de vidro, e em duas portas o tradicional vidro foi substituído por espelhos. Percebi que já haviam algumas peças nos cabides e me perguntei o que significavam, duvida que foi logo saturada por minha tia.
- Me dei a liberdade de lhe dar algumas roupinhas como presentes de boas vindas. Bem, vou descer – disse ela já se preparando pra sair. Quando estava na porta do quarto a ouvi dizer – se precisar de mim estarei na cozinha. – e então eu fiquei sozinha.
Decidi tomar um banho e descansar, mesmo porque poderia guardar minhas coisas depois e independente disso, minhas aulas só começariam na próxima segunda, ou seja, ainda tinha doze dias para me preparar psicologicamente para o suplicio que seria meu primeiro dia de aula. Lembre-se, disse uma vozinha em minha mente, foi você quem escolheu. E com esse pensamento fui tomar banho.

terça-feira, abril 26, 2011

capitulo 1. A Mudança.

Tudo o que conseguia ver eram as gotas de chuva rolando pela janela. Perfeitas, cristalinas, sem se importar com nada, a não ser cair. Chuva. Acho que nunca me dei muito bem com água, ainda mais quando ela cai do céu aos baldes. Mas, para o dia, aquilo soou perfeito. Tem momentos em nossas vidas em que temos que fazer sacrifícios, e bem , na hora que me pediram pra decidir, fiz o que achava certo. Agora, não mais tanta certeza assim.
Minha irmã Luci, cuidou de mim quando nossos pais morreram. Não tenho muitas recordações a respeito deles, mas pelo que Luci conta, não perdi muita coisa. Quando o quesito é namorado, Luci sempre ficou a minha frente, pois ela com seus 15 anos já rompera com três, e eu, aos 18 não tive nem um misero garoto que ficasse a o meu lado por mais de 5 dias. Sim, eu. Nunca fui modelo de perfeição. Enquanto Luci... Bem, Luci é Luci. E ela se casou.
-Eu sei me cuidar sozinha - eu falei - ficarei bem no norte - claro. O que ela não sabia é que ao invés da confiança que demonstrei ao falar isso, eu me sentia como uma bailarina prestes a enfrentar o teatro lotado em sua primeira apresentação, sabendo que se houvesse treinado mais poderia ter feito melhor.
Então me vi num avião com direção a Canadá, Quebec, para ser mais exata a Montreal. Bem, isso é algo realmente assustador quando se é uma garota do sul dos estados Unidos. Ao menos não estava nevando! Ainda. O tempo representava mais um empecilho para mim, mas este degrau eu estava disposta a subir.
Minha única preocupação era se Tom cuidaria bem de Luci. Diferente dela, ele parecia responsável. Ao menos, foi a impressão que ele passou nos quatro meses de convivência. Mas como todos sabem, morar numa casa com recém casados não é fácil. Fora que eles conseguiram abalar minha auto-estima. E foi esta razão que fez sair de meu tão amado sol, para ir em direção ao frio. Não por mim, mas por eles. Luci merece isso em homenagem aos anos dedicados a minha educação e as noites que a impedi de dormir. Se bem que ela não precisa mais de mim para acordá-la no meio da noite, creio que tom fará isso com prazer. Muito prazer. Argh.
Além de ser caloura desconhecida numa universidade que nunca me passou pela cabeça estudar, teria de conviver na casa de tia Agnes, uma tia que não via desde o enterro de meus pais. Após uma grande discussão entre dois advogados, ficou decidido que minha tutora seria minha irmã. Claro que minha tia não ficou nada satisfeita, e até o ano anterior nosso único contato era atravéz de meus cartões de natal e aniversário. Naquele ano ela decidiu ir alem, a fora os presentes de casamento afrontosos para Luci, mandou-me passagens para visitá-la e mais uma carta avisando que as portas da casa dela estavam abertas para o caso de eu querer morar com ela.
E ali estava eu. Tenho de afirmar que nada sabia sobre minha tia, pois nos vimos apenas duas vezes, na minha festa de 3 anos e no natal do seguinte, ou seja, não via a hora de conhecer a total estranha com a qual moraria nos próximos 4 anos de minha vida. Isso se me saísse bem na faculdade de historia e não tivesse que refazer uma ou outra matéria, o que não era de todo improvável. Mas voltando a minha tia, parte do mistério que a sondava foi desvendado quando a vi no aeroporto, com uma calça jeans cinza escuro e sobretudo preto, ela se destacava não apenas por sua beleza, que aparentava metade de seus 50 anos, mas também pela aura que a rondava,que exalava poder, autoridade, como se tudo a sua volta fosse sem importância. Isso unido ao fato de suas roupas, que sugeriam boas marcas, lhe dava um ar clássico e ao mesmo tempo contemporâneo, como se fosse alguém nobre.
Mas o mais marcante foi a forma como nossos olhares se cruzaram. Quando a vi, foi como se ela fizesse parte de minha vida, se conhece o que se passa no mais fundo de minha mente, se me conhece desde sempre. Foi fantástico. E me assustou. Legal.
- Acho que a garota loirinha que amava Sunday cresceu. - tive que rir. Sua voz me trouxe uma nostalgia incrível. Pude perceber alegria a me ver. Parecia que ela esperava algo de mim.
- Cresceu. – não. Eu realmente falei isso? Só posso estar louca. Acho que a culpa foi do clima. Ta ok. Certo. Foi o clima.
- katherine você realmente cresceu, é muito parecida com seu pai, mas os olhos e os cachos são de minha irmã. Sua mãe ficaria orgulhosa se a visse. Mas também se sentiria velha, o que a deixaria histérica. – era difícil ver o sorriso triste de minha desconhecida tia Agnes e não sentir pena. Pelo que luci falava elas eram muito ligadas, e ao meu parecer esta era a principal razão para seu interesse em me ter morando com ela. Mesmo porque não é o sonho de ninguém ganhar uma boca a mais para alimentar, e como eu e luci não éramos filhas da mesma mãe seu interesse era apenas em mim, a estranha e desconhecida sobrinha.
- É o que dizem.
Deixamos aeroporto no carro de minha tia, um pajero 2011. Ok, ela podia ser meio extravagante. Gostei dela.

terça-feira, abril 19, 2011

Prologo


Você não pode controlar tudo o que acontece com você.
Por mais estranho que isso possa parecer eu não temo meu destino e mesmo que eu pudesse voltar no tempo, não mudaria nada, mesmo porque seria inevitável e só me traria mais dor. Todos nos temos um momento em que não agüentamos mais, e para mim, esta hora já passou a tempos. E me vejo a mercê dele. Sei que tudo o que eu tentar fazer me afundara mais ainda neste buraco. Ótimo não tem como voltar atrás.
Por mais que eu olhasse para cima eu só podia ver a escuridão. Tudo o que por mim era estimado se foi, e o amigo mais querido voltou como sendo o próprio Judas. E todos os segredos selados em meu passado voltaram e me assombram, como uma serpente a sua presa, prestes a dar o bote final. Sei que minha derrota será um fantasma a lhes assombrar pelo resto de seus dias, minha pequena e medíocre vingança. Insignificante. Ridícula. Mas uma pequena vitória!
Mas nem tudo esta perdido, vejo amor no olhar dos que me cercam, pois minha dor é uma cruz que eles carregam. Minha escolha os fez sofrer isso me abala mais que tudo. Mas sem ela eu não estaria aqui agora e por mais que machuque, meu destino fui eu quem construiu.